domingo, 11 de agosto de 2013

Eu nasci todos os dias quando meu pai morreu

Ganhei a honra de sentir-lhe a falta
Falta que alarga os sentidos, múltiplos
Sentido único de ser-lhe, em parte, inteira

Inteiro difuso homem preciso
O tempo nunca foi tão vivido como nessa falta
Que o imortaliza liso
Germinar no tempo sem esforço
Como ele é enfim
Naquele silêncio expandido
Denso porque leve
Leve porque sim, aquele brilho
No tanto que respirou convicto
Certeiro ao viver o infinito
Ao longo de cada minuto

Falta que me preenche imensa
Grande como nunca fui antes
Que detona eu sozinha acompanhada
Eu mais morada
A segurança de ser ele calada
Silêncio líquido
Inundou sem fundo
o mundo desnudo
Mesmo quando  é berro
De uma saudade não só poesia
Mas também amarga
De não poder com ele
Compartilhar justo isso
O maior furo da vida
Oco de sonho
Repleto desgosto
Dor do dia alvorada 

no dia seguinte eu ouvi

menos feliz voce nao vai ser,

menos feliz eu nao sou mas sou mais triste

Falta translúcida derrama sentido
Do tempo inteiro ser mortal
Todo segundo  - A vida em miúdos
Nada mais que o feito
Tudo mais que o sentido
Ele sabia, estamos além
Mais ainda precisamente nisso:
"vive morre trigo, morre nasce pão"

Mão de conjugar verbo infinito
Generosa semeadura
Firmeza táctil 
Peso e impacto sem pesar          

  gravidade do corpo que vive a entrega                                                                                                 

  espaço de tempo do pestanejar
Sabia das medidas
O quanto durar
Ininterrupto no vento
Mar manso ainda quando em tempestade absurda
De olhos fechados horizonte
Puro e pertinente                       

   Dava pra ver de longe
Explosão terna do inexprimivel simples
Só ser
Mão mãe apesar de tão pai
Ou justamente por isso
Fértil feito ventre
Conforto de aproximar o longe do mundo
De quem como ninguém sabia estar perto
Ao lado, dentro, junto mesmo
Distraído do que fosse preciso para te deixar você mesmo mesmo que você não o soubesse ser
Fisgando o que fosse possível
Do ser o tangível

Múltiplo sentido de intuição receptiva
Daquela pele extensa
Que pode conter o mundo
Em olhos astutos
Agora ainda mais profundos
Coração preciso se espalhou em terras largas
Precisão de força absoluta
Nunca vi ninguém tão forte                                                                                                    
Força de quem é manso
Mansidão de que só todo amor é capaz

Menino alazão
Animal por inteiro não há quem duvide
Como pode...
Desenhado em tão fino trato
Engenhoso brincalhão, quanta doçura
Arquiteto do barro
Matéria do prover
Poesia literal  ventania solta

Ligeiro coração sem pressa
Nesse tempo impreciso de uma vida que não termina
Mas precisou dormir
Colher o onírico
Daquele sono honesto
Amanhecer é regar a árvore
Da sombra mais farta que conheci
Porque desfecho des-fecha abrindo
Nesse tempo louco de ser ele a falta
Presença concreta de pedra dura 
A beira da água o mistério da mistura
De ser ele inteiro parte absoluta
Eu toda, parte, prosseguir, gerar-ação, geração
Mais ainda quando longe sempre perto
Arte de completar
Contemplar o cíclo inteiro
Correr o rio  pro mar
Como se morrer fosse transbordar
Conta-gota  vida
O contínuo parecia ser interrompido
Mas não era possível
Posto que é tão próprio dele
Ser sem contorno
O amor é de que quem quer que o viva
Semente sou tão grata
Dessa vida luz exata  porque difusa
Pedra na água ecoa
Circulo de amar  que o perpetua
A vida nele foi abençoada
Sou filha do infinito
Cumplidade  é suceder

Embora eu a sinta em cada canto, latente
Na vida linha em rede não há perda, costuremos
Ganhei a honra de sentir-lhe a falta
Nasço todos os dias na presença
Dei me a cisma de ser digna

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