segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Não importa o quanto custa, vale o quanto quer

Acabo de enviar o projeto Canta_Mais ao Catarse.
O que me vem a cabeça incesantemente é que não importa o quanto custa, vale o quanto quer....

Trechos do projeto escrito:


SAINDO DA GAVETA:

Sempre chega a hora em que o ímpeto da criatividade pode se tornar uma ação concreta no mundo. Pois é chegada hora desse som sair da gaveta. 

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DENTRO DA ARMÁRIO:
A gestação dessa música começou há mais ou menos 29 anos. Existe um momento em que a troca com o público se torna imprescindível, e é por isso que  escrevo esse projeto, e porque de nenhuma outra forma eu me sentiria inteira agora. 

(...)

MEU PALETO ENLAÇA SEU VESTIDO:
 A história desse show é escrita por muitas mãos, pois uma longa jornada culmina nele. De fato, é um projeto coletivo, primeiro porque sem a colaboração de vocês eu não conseguiria viabiliza-lo, depois porque esse som só se realiza quando encontra você, público.

(...)
OS MEIOS:
Impossível para um mas viável e gratificante a partir da colaboração de alguns...

(...)
E ai, me ajuda fazer esse som chegar até você?


Se quiser ouvir um pouco desse som, acesse:

http://www.youtube.com/channel/UCawDdiGI2D3OcXCnnqYCjSQ


(...)

Agradecimentos:
Alan Zilli,  Andrea Drigo, Centro Cultura Rio Verde, Gustavo Ferri, Lalo Prado, Luciana Campello, Lu Horta,  Mario Sene, Nathalia Leter, Pablo Nacer, Pepe Cisneros, Taissa Montiel, Sala Crisantempo e Zoe McGill.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ser humano caramujo


 
É verdade, não podemos carregar tudo na mochila,  mas o fato é que somos humanos caramujos. Já viemos com uma mala acoplada nas costas, e o peso dela vazia nos é insuportável.

O amor traz toxinas, mas tem todos os nutrientes necessários quando reciclado, quando se pode o ciclo inteiro.

Fazer a mala da vida, o que fica, o que vai, é uma tarefa muito difícil. Nem o mais alto nível de discernimento e desapego pode nos poupar do desequilíbrio, do farto peso nas costas vez ou outra. Porém é em vão o esforço para trancafiar-se a sete chaves, somos preenchidos, ainda que de medo de ter algo dentro de si.

O medo, a abertura, fica a seu critério, por sua conta e risco. Porém não viemos com manual de instruções, e a mala não tem um botão de evacuação imediata, limpeza profunda, sem vestígios. Além do mais, sabemos que poucas vezes  a figura humana esta legitimamente associada a palavra controle.  Muitas bugigangas vão parar no âmago da mala assim, como que por osmose, sem se quer convite ou autorização. E o que nem se quer percebemos e lá esta?
Apesar do pouco controle e tamanha importância que toda nossa mochila representa para nossa vida inteira, ser assim meio mala da Mary Poppins ainda é um privilégio.
Pois ser um ser-acervo é ser de todos, e ser todos.
Haja amor para não amargar essa coletividade.
É ter a possibilidade de construir sentido em perspectiva. Ser ao longo do tempo também profundidade, ser a própria história, memória ambulante, viva. Haja amor para não amargar esse traço, e dimensão.

Com os anos aprendemos a usar peneiras em nossas mochilas. Mas inevitavelmente de tempos em tempos teremos que sentar, abrir, reavaliar, se despedir, largar.

Depois de nos depararmos com uma(s)  pessoa(s) desastrosamente instalada(s) na nossa mochila como se esta fosse sua casa (quarto, sala, banheiro,cozinha, e quintal), e de nos encontrarmos igualmente derramadas em malas alheias, repensamos nossa estrutura, estudamos o zipper osmótico e provavelmente com alguma sensatez e certo medo nos fechamos um pouco. Mas a gente também quer entrar na mala do outro, construir bolsos, furar o forro. As vezes até pra ser a alça, apesar de todos os avisos que sabiamente desaconselham o caso. Enfim o impulso da troca nos toma, seja por encanto, necessidade ou ainda distração.

Hoje, cá com minha mochila acredito que a peneira mais eficiente que conseguimos é a capacidade de ampliar o peito no afeto. Crescer por dentro numa versão não ego-trip. Como estar bem a vontade com o amor que a gente sente, afinal,  isso não pode fazer mal a ninguém. Ufa! Pois, o amor na ponta da agulha, no trato, no tato: peneira que é uma beleza. Por mais duvidoso que isso seja. Por mais contraditório que isso possa ser, e é.

Pois a entrega da atitude amorosa em cada ato é o jeito mais implacável de delinear o recuo que não é medo, a firmeza que não é agressão, o limite que não é egoísmo. E que Deus nos livre do incomensurável peso do medo, da agressão, do egoísmo. Peneira e vale a segurança vívida de carregar em si a coragem da exigência e da dedicação nas boas relações.

O amor é o único peso que eu conheço que se pode carregar com leveza - só ele mesmo para relativizar a gravidade e de quebra limitar o que entra, ou mais seguramente o que fica em nossas células-acervo, encosto de caramujo.

Preto no branco é clareza dos corações que se jogam. O vazio é um abismo ainda maior do que o amor. 


-- 
Luciana Barros

http://soundcloud.com/luciana-barros/sets



Eu dedico esse texto ao Gael, meu querido  afilhado, que esta começando a fazer a mala da sua vida agora. Que seja iluminada!